Anarquismo

A primeira vez que ouvi falar de Anarquismo foi quando eu tinha nove anos. Durante a aula de Estudos Sociais, perguntei para a Tia Cléris Nanci:

- Por que a gente tem que seguir as leis?

E ela me respondeu:

- Porque senão nós seremos presos!

Talvez essa fosse a resposta que daria menos trabalho para uma menina da Terceira Série. Mas eu não me contentei:

-Ah é, Tia? E quem vai me prender?

- A polícia!

- E se eu não quiser que ela me prenda? - indaguei indignada.

- Você não tem nada que querer...

- E por que não, Tia?

- Porque todo mundo faz assim.

Eu já sabia que o debate ia longe. Mas naquela época eu acreditava que a escola servia para nos ensinar a ser cidadãos. Então continuei:

- E quem é que decidiu as leis?

Realmente eu estava querendo demais de uma pobre pedagoga... Quiçá se ela fosse uma professora de um Curso Universitário de Direito pudesse me responder...

Ela respondeu algo do tipo: "Sempre foi assim". Tentando disfarçar que não sabia o que dizer.

- Tia, e se eu juntar um grupo de pessoas que não siga lei nenhuma?

Para essa, a Tia Cléris tinha uma resposta:

- Ia virar uma bagunça!

Começando a gostar da idéia, eu disse:

- Legal! Eu adoro bagunça!

- Algumas pessoas já tentaram fazer isso e não deu certo! - disse impaciente a tia Cléris.

- E quem são eles, Tia?

- São os anarquistas. Mas se você não parar de atrapalhar a aula vai ter que ir pra sala da Tia Ana Lúcia. E agora vamos decorar a tabuada. 1 x 1 = 1, 1 x 2 = 2, 1 x 3 =3 ... Repitam, crianças!

E assim por medo da temida diretora Ana Lúcia Bicho Papão eu não me tornei anarquista. Hoje em dia continuo não tendo muito conhecimento sobre Anarquismo. Tenho um pouco de medo de me interessar muito pelo assunto e me tornar uma personagem de Dostoiévski, tipo o Raskolnikov de Crime e Castigo. Mas a tabuada do oito eu sei de cor e salteado!