domingo, 27 de dezembro de 2009

Ciclo

Ficar solteira ou comprometida é um estado de inércia. Simples: um corpo em casa vendo filme tende a permanecer em casa vendo filme. Um corpo na balada tende a permanecer na balada.
Com o surgimento dos hormônios, inicia aquela ânsia por descobrir o novo, conhecer pessoas, beijar bocas, etc.
Até que uma boca, um sorriso e um olhar começa a se sobressair perante os demais. E estar mais e mais com essa boca, esse sorriso e esse olhar se torna mais importante do que se aventurar em busca de novas emoções.
Enquanto cada encontro com esta pessoa significa borboletas batendo asas no estômago tudo é lindo. Mas após um tempo, o conforto de ter alguém sempre ali, com a forma exata do ombro para se encostar, um cheiro que se reconhece de longe e aquela voz familiar repetindo as mesmas afirmações, tudo isso vira uma rotina chata e insossa.
E é difícil recomeçar. Definitivamente, sempre alguém sairá machucado deste ciclo, com a sensação de que tem um buraco dentro do peito. E isto não é uma metáfora, é algo tão real quanto uma gastrite ou uma hérnia de disco, dói de verdade.
E quando se sente dor, o que se faz? Toma remédio, faz curativo, procura um médico, faz uma cirurgia. E além disso, conta com um remédio infalível: o tal do tempo.
Com exceção de pessoas extremamente perturbadas e obcecadas, dignas de reclusão social, não conheço ninguém que sofre a vida toda pelo mesmo amor. E logo reaparece aquela sensação de busca, de conquista. E tudo isso volta a ter graça e fazer algum sentido. Até que uma nova boca, um novo olhar e um novo sorriso...